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Conto do parcelamento: financiamento sem juros não existe, dizem especialistas

Um estudo da Proteste constatou que o financiamento sem juros não existe, pois os juros estão quase sempre disfarçados nas compras a prazo

Atire a primeira pedra quem nunca pensou em fazer uma loucura e comprar aquele objeto de desejo da vitrine, em suaves prestações, a perder de vista. Afinal, a loja garante que o parcelamento é sem juros, então, que mal pode haver nessa inocente comprinha? Se você pensa assim está na hora de abrir o olho.

Um estudo da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) constatou que o financiamento sem juros não existe, pois os juros estão quase sempre disfarçados nas compras a prazo.

O estudo foi feito no Rio de Janeiro, mas, segundo a Proteste, os resultados se aplicam a todos os estados brasileiros. “Constatamos que, a depender do produto, o pagamento parcelado pode sair até 20% mais caro para o consumidor”, informa a coordenadora da Proteste, Maria Inês Dolci.

Ela observa que o momento é bastante oportuno para o consumidor juntar dinheiro e comprar à vista, obtendo bons descontos e sem ficar devendo, mas é necessário  saber usar isso a seu favor. “É preciso ter uma boa abordagem com o vendedor para conseguir um bom desconto, de pelo menos 10%, para pagamento à vista”, ensina.

Para quem adora cair nas tentações do parcelamento ‘sem juros’ no cartão ou nos crediários, Maria Inês dá outra dica. “Quanto menor o prazo de parcelamento melhor para o consumidor se organizar para fazer outras compras. Quanto mais longo for esse parcelamento, mais chances para o consumidor se endividar”, ressalta.

Para quem vai às compras, fica a dica: planejar evita os parcelamentos desnecessários que acabam minando as economias do consumidor. 

Estratégias
“Se for sem juros, eu parcelo até em cem vezes, mas se tiver juros não parcelo de jeito nenhum”, relata a comerciante Gilsélia Planzo, 58 anos. Ela diz, contudo, que só pede para dividir  a depender do valor da compra e da situação que está a fatura do seu cartão de crédito para o próximo vencimento.

“Parcelo principalmente as compras de roupas, móveis, itens de decoração, medicamentos. Muitas vezes até posso pagar à vista, mas quando a gente propõe os vendedores não dão desconto. Eles ficam induzindo a gente a comprar parcelado. Como é que um produto comprado em não sei quantas parcelas pode ficar com o mesmo preço de à vista?”, questiona.

Esta situação relatada por Gilsélia  é bastante comum, porém, o consumidor que dá valor ao próprio dinheiro deve ter estratégias para comprar nas melhores condições. E, segundo o estudo da Proteste, um bom caminho é  a boa e velha pesquisa de preços.  Quando a Proteste fez a pesquisa conseguiu descontos de até 10%.

De acordo com Maria Inês Dolci, quem quer comprar  e pode pagar à vista deve procurar negociar, mesmo que a possibilidade de abatimento não esteja anunciada. “Se o consumidor não conseguir um  desconto satisfatório, deve procurar outro local onde encontre o produto desejado em melhores condições de compra”, orienta.

Razão e emoção
Segundo Carlos Roberto Oliveira, superintendente da Confederação de Dirigentes Lojistas (CDL), os brasileiros estão sendo motivados diariamente a consumir.  “O consumidor não deve usar só a emoção. Quem age dessa forma se apaixona pelo produto que deseja e perde o racional na hora de negociar. Por isso, tem que colocar a razão na compra e se perguntar se realmente aquele produto é necessário. Quem perde o controle das compras vai parar no banco dos devedores”, alerta.
Se algum tempo atrás dava muito trabalho para parcelar uma compra em seis vezes, hoje há uma grande oferta de crédito, o que facilita o endividamento. “Dependendo da quantidade de parcelas, a prestação do produto fica do tamanho do bolso do freguês. Tem que ter cuidado para não comprar mais do que pode. São 580 mil baianos no SPC”, informa.

Especialista orienta sobre como fazer boas compras
Segundo o consultor financeiro Augusto Sabóia, é no planejamento das compras que está a chave do sucesso. “O ideal é fazer uma lista com tudo o que a pessoa vai comprar no ano,  incluindo até o presente do próximo Natal”, ensina. Como a lista é anual, então não precisa comprar hoje. “Quem precisa da promoção é o dono da loja, que comprou um monte de mercadoria e tem que vender”, diz Sabóia.

Ele ensina ainda outro truque que pode baixar ainda mais o custo daquela lista de compras. “Quem tem dinheiro guardado deve aproveitar para comprar só o que está na sua lista no dia mágico da liquidação de 50%. Pra que alguém vai querer um desconto de 5% se nesse dia eles dão 50%?”, questiona. Na opinião de Sabóia, a pesquisa de preços  não pode faltar. “Tem que fazer o orçamento pela internet e  pesquisar em pelo menos quatro lojas. Depois, é só ir até a loja e dizer que viu o mesmo produto mais barato no concorrente. O vendedor vai chamar o gerente para negociar”, diz.

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